Nesta sexta feira, 8 de Março, mulheres e homens realizam em todo o Brasil mobilizações para expor a realidade violenta em que as mulheres estão submetidas no país. Somos uma sociedade machista em que a agressão ao feminino, vai além da agressão física, está diluída nas relações de poder, na publicidade e sobretudo na saúde sexual e reprodutiva, na autonomia sobre o próprio corpo.

Segundo a militante da Rede Feminista de Saúde, Maria Dirlene Marques, “toda violência que é dirigida a mulher, por ela ser mulher é sexista. Pode ser violência física, mas tem outras que deixam marcas igualmente profundas, como a violência psíquica, na qual a submetemos a uma vida inteira de desvalorização, humilhação e desqualificação, a violência sexual, que é imposta a mulher contra a sua vontade. Além da violência social, que pode ser observada pelos salários desiguais entre mulheres e homens que desempenham a mesma tarefa”.

Recente mecanismo legal instituído para conceber maior proteção às mulheres vítimas de violência, a Lei Maria da Penha está ameaçada pela reformulação do Código Penal brasileiro. “Pontos importantes da lei, como a possiblidade de qualquer pessoa denunciar o crime, o impedimento de retirada da queixa na polícia, a caracterização como sequestro à mulheres mantidas presas em casa pelos maridos e até mesmo o estupro corretivo, no caso das relações homo-afetivas. Tudo isso pode ser retirado do Código Penal ou amenizado por penas alternativas, no caso de violência doméstica”, alerta Dirlene.

Mídia

Dirlene também aponta a mídia e a publicidade como atores que contribuem para fragilidade da soberania da mulher, através de conteúdos que exploram o lado sexual ou programas que reforçam a ideia de que elas devem estar a disposição do homem. “Uma mentira repetida milhares de vezes se torna verdade”.

Um estudo coordenado pela ANDI – Comunicação em parceria com o Instituto Patrícia Galvão define como predominantemente policialesca a cobertura jornalística em relação a violência contra a Mulher. Veja os principais apontamentos do documento:

1 - Noticiário está focado em casos individuais, em detrimento de discussão mais ampla sobre o fenômeno.

2 - Fontes oficiais são as mais citadas nas reportagens, em especial representantes da Polícia.

3 - Mais de 20% das notícias sobre o tema são destacadas em chamadas de capa.

4 - Conflitos e contradições na aplicação da Lei Maria da Penha não são foco de atenção. Políticas públicas também permanecem fora da pauta.

5 - 48,68% das notícias abordam a violência física, enquanto injúria racial é notada por apenas 0,54% das matérias.

6 – Brasil é signatário de compromissos internacionais de enfrentamento ao problema. Imprensa ignora.

7 – Maioria das notícias não indicam onde buscar serviços de denúncia ou atendimento.

8 – Impunidade do agressor não está na pauta.

Aqui se mata mulher

Segundo o Mapa da Violência 2012 (FLACSO Brasil), Belo Horizonte é 13a capital em número de assassinato de mulheres (78 assassinatos em 100 mil mulheres). Dirlene aponta o tradicional machismo mineiro como causa destes números. Minas Gerais é 20o estado da federação (339 assassinatos em 100 mil mulheres). No mundo, somos o 6o país onde mulheres são assassinadas.

Entretanto a violência se manifesta de outras formas, como a ausência de equipamentos públicos, como creches e lavanderias comunitárias, que obriga as mulheres com baixa renda estender sua jornada de trabalho, com todo trabalho doméstico recaindo sobre elas. As violações se intensificam se a mulher for negra. Em Belo Horizonte 71% das vagas de serviço doméstico são ocupadas por mulheres negras (Dieese,Seade,MTE/FAT), que mesmo recebendo salários menor que das mulheres brancas tem um percentual maior de responsabilidade por domicílios, ou seja, há mais chefas de família negras e pobres do que brancas.

O dia 08 de Março antes de ser uma data de venda de flores, bombons e perfumes (o que não é na verdade), é um resgate constante da luta da mulher trabalhadora, ou da que quer trabalhar, por direitos igualitários e valorizaçãoo da sua força de trabalho.

PROGRAMAÇÃO

Belo Horizonte

A partir das 13 horas, haverá a concentração de blocos temáticos em praças históricas de belo horizonte, que farão intervenções por toda a cidade.

Veja o que vai rolar:

Praça Raul Soares: Bloco das mulheres na luta contra a lesbofobia, bifobia e transfobia.

Praça Afonso Arinos: Bloco das mulheres na luta contra a violência doméstica.

Praça da Rodoviária: Bloco das mulheres na luta contra a mercantilização.

Praça da Estação: Bloco das mulheres na luta contra a violência do estado.

Praça da Assembleia: Bloco das mulheres na luta contra a violência do campo.

Debaixo do Viaduto Santa Tereza: Bloco das pretas, nordestinas e indígenas.

A partir das 16 horas os blocos se encontrarão no palácio da justiça, na Afonso Pena de onde seguiremos em marcha, juntas, até a praça sete.

Escolha seu bloco e venha, com arte, irreverência e rebeldia dizer: MEXEU COM UMA, MEXEU COM TODAS!

Uberlândia

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