As Olimpíadas de Tóquio reforçaram uma constatação antiga: a importância de projetos sociais na formação de atletas no Brasil. Em um país que pouco investe no esporte, com pouca iniciativa do setor privado, o terceiro setor é uma alternativa importante para produzirmos cidadãos vencedores, ganhadores ou não de medalhas e títulos.

O maior exemplo é a ginasta Rebeca Andrade, que levou o ouro no salto e a prata na ginástica artística individual geral. Sua caminhada até a consagração em Tóquio teve início aos quatro anos de idade em um projeto social da prefeitura de Guarulhos, interior de São Paulo. Sem a iniciativa, o talento da ginasta provavelmente não seria revelado ao mundo.

O atleta da canoagem Isaquias Queiroz, ganhador do ouro na categoria C1-1000m (já tinha levado duas pratas e um bronze na Rio 2016), também foi descoberto em um projeto social ligado ao Ministério do Esporte, em 2005 – e que infelizmente foi extinto.

O boxe brasileiro é outro esporte que cresce graças a iniciativas do terceiro setor. Os medalhistas Hebert Conceição (ouro - categoria peso-médio) e Abner Teixeira (bronze - categoria peso-pesado) são crias dos projetos “Academia Champion” (Salvador/BA) e "Boxe - uma luz para o futuro" (Sorocaba/SP), respectivamente.

No atletismo, o exemplo é de Alison Piu, vencedor da medalha de bronze nos 400 metros com barreira. Ele foi descoberto na adolescência pelo projeto social Instituto Edson Luciano Ribeiro, em São Joaquim da Barra (SP).

O skate, que trouxe três pratas esse ano para o Brasil, também é um esporte cujo desenvolvimento é ligado a projetos sociais, como o Coletivo Love CT, de São Paulo, e o Instituto Ademafia, do Rio de Janeiro. Nos dois casos, às aulas de skate são agregadas outras práticas, como inglês, informática e artes, ampliando a formação dos participantes das oficinas.

Alguns ex-atletas que já viveram as dificuldades da carreira investem no apoio a novos talentos. É o caso do ex-judoca Flávio Canto, que, com a criação do Instituto Reação, atende mais de duas mil crianças, adolescentes e jovens de comunidades carentes do Rio de Janeiro e de Cuiabá. Foi do Reação que veio Rafaela Silva, primeira brasileira a ganhar ouro no judô, em 2016. Outros atletas e ex-atletas, como Paula Gonçalves (basquete), Gabriel Medina (surf) e Gustavo Kuerten (tênis), também mantêm projetos voltados para o desenvolvimento esportivo e cidadão.

Os triunfos de brasileiros, nos Jogos Olímpicos e em outras competições internacionais, mostram que o país tem potencial para ir muito mais longe no esporte se houver mais apoio governamental e empresarial. Enquanto isso não acontece, cabe-nos aplaudir e exaltar as instituições do terceiro setor que batalham arduamente na formação de atletas, utilizando o esporte como plataforma para difundir valores morais e sociais. Aos empregados da categoria que participam de projetos ligados ao esporte, nosso reconhecimento e orgulho pelo trabalho desenvolvido. Contem sempre com o Sintibref-MG para apoiá-los e defendê-los.